Quando ele jurou lhe amar Nem tudo poderia cumprir Não por falta de amor Mas pelo fato do destino existir E a cada dia navegando, o marinheiro Ela esperava a beira mar Apertando o avental em suas mãos Tentando o destino amarrar E fora tantas vezes lançado E o mar generoso retribuia Peixes, beijos, pérolas e abraços Marcados no avental da agonia E podia ter estudado, pensava Quem sabe ser até professor Mas a tradição foi mais forte Benção pai, vou pro mar, ser pescador Naquele dia acordou ansiosa O vento não trazia bons presságios E o tempo logo mudou, o céu escureceu O dia jazia em adágio. O mar revolto veste os moles de noiva E a chuva suave vira torrencial Os raios iluminando o céu Prenunciavam o temporal E a cada traineira que retornava As lágrimas corriam a esgueiras A negativa da volta do amado a noite engolia inteira O avental já em farrapos Seu corpo encharcado de chuva Quando ele partiu era uma Agora já existiam duas E a cada trovoada a lembrança Do pavor de temporais Foi mar que roubou-lhe o amor E os céus não a deixam esquecer jamais.