Paroles
As forças passeiam pobres. A vontade soluça arquejante.
A tosse soa forte, mas nobre. Os cigarros aumentam bastante.
Pra ante, ali, não obstante, a navalha, as guimbas, as pingas,
crescer o malandro elegante, forrado de branco, poleiro de gingas.
Que olha adiante e geme de pena. Os bons de antes saindo de cena.
Curvam e colhem bitucas acesas. Bebem últimos goles sem surpresas.
Do corpo não mais sai o gingado. A malevolência foge para os lados.
Não assustam os sem camisa de seda. Tornou-se apenas presa.
Ruem os velhos paredões, nada de pé. Fecham-se os cabarés.
A última gota pinga nos drogados. Vem de tetos destelhados.
Os pombos não mais arrulham. Somem em bandos nem patrulham.
Casarões implodem. Não acodem, velhos prédios se destroem.
Sinucas, botecos, ruelas, samba em caixa de fósforos e vielas.
Damas de leques, pisos em pedra, estilo pé de moleque,
calçadas de pedras largas e dorminhocas, tudo se troca.
Lampiões, bancos de madeira, não erro, com pés e suporte de ferro.
Mendigos alegres e bêbados, inexistem e somem por aí trêbados.
As entradas estão lacradas. Só saídas sem retorno. Mais nada.
Aonde ir o último malandro? Do topo da escadaria, zombando.
Quase fera no alto, olha por cima, ama sua Lapa e a domina.
O progresso só é o veneno final, papel do escorpião que é do mal.
Rouba e mastiga o último amendoim. Triste está com tudo assim.
Sua lapa, a guimba, a ginga, a pinga. Última vez a navalha e se vinga.
O rastro do rato alegre se apaga, e sendo assim nada o afaga.
Morre como mais uma quarta-feira de cinzas, pessoas ranzinzas.
Mais um carnaval carioca de rua. Ópera anual de pobres nua e crua.